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segunda-feira, 5 de julho de 2010

E apita o arbitro...

Desde o dia 11 de junho, o planeta bola parou para ver a bola girar, girar pelos campos da África do Sul, que em sua estréia como sede de uma copa do mundo não fez feio e nem ficou devendo a outros países que já sediaram uma competição como esta.
Bom, mas no caso específico do Brasil, o país inteiro pára literalmente, tudo fecha, nada funciona porque a nação inteira está de olho na atuação de onze homens que tem a missão de representar uma pátria de cento e noventa e dois milhões (em números atualizados pelo IBGE) de almas verde e amarelas que torcem, que palpitam, quem xingam, que sofrem que se desesperam e algumas até morrem de infarto.
Daqui de terras tupiniquins muitos torceram o nariz para as escolhas do capitão ‘Dunga’, mas segundo ele “é tudo baseado na coerência”, então o melhor foi torcer e desejar boa sorte aos que estão lá.
“E apita o homem de preto” e começa a certame e junto vem a desconfiança do que estaria por vir. Mas o que esperar de nossa seleção? A resposta era não esperar nada e ver para depois tirar as conclusões.
Nosso primeiro jogo foi contra um adversário quase desconhecido do resto do mundo, tanto nas relações políticas quanto no futebol, a “poderosíssima” República Democrática da Coréia ou para os mais íntimos Coréia do Norte. O jogo foi feio que dava dó, ganhamos de 2x1, passamos sufoco, cumprimos o dever de casa, mas que fique bem claro foi ali na bacia das almas.
Já na segunda partida, tida como a mais difícil, contra a Costa do Marfim, que até tem bons jogadores e tem um time arrumado taticamente, demos um banho de bola que convenceu até o mais descrente dos torcedores. O ponto ruim foram às baixas pelas expulsões e pela violência em campo. Até a imprensa que estava pegando pesado com o time e principalmente com o técnico deu uma colher de chá e se rendeu aos encantos apresentados pelo time brasileiro.
Contra Portugal a partida foi de dar sono, com todas as atenções voltadas para o já super egocêntrico Cristiano Ronaldo, que nada fez em campo. Rolou apenas um empate em que ambas das equipes saíram ganhando e que tiveram a oportunidade de ver a Costa do Marfim sendo eliminada de camarote.
Passamos em primeiro do grupo, rezando para não pegar a Espanha, e enfim nosso adversário foi definido. Iríamos enfrentar o Chile, que venhamos e convenhamos são nossos fregueses desde que o mundo é mundo. Resultado, atropelamos a seleção chilena com direito a baile.
Na próxima fase, as quartas de final a Holanda, que tem a fama de Laranja mecânica, mas sempre quebra pelo caminho e nunca chega lá certo? Errado. Desta vez quem ficou pelo caminho fomos nós os brasileiros, cinco vezes campeões do mundo e donos do melhor futebol do planeta. Quando o arbitro apitou o país inteiro estava nervoso e atento ao que acontecia lá na África. O jogo começou pra lá de tenso e o país tremia a cada investida do time laranja à área do Brasil. Em um passe sobrenatural (até para o que ele sabe jogar) Felipe Melo colocou Robinho na cara do gol, que com uma precisão cirúrgica balançou o barbante da meta holandesa. E só não marcamos mais por falta de pontaria e competência. Apita o arbitro e fim do primeiro tempo. Eu que estava assistindo ao jogo em uma padaria com mais tantos outros brasileiros fanáticos, apaixonados e disse a mesma coisa que eles, “se continuar assim estamos na semifinal”, ledo engano. Apitou o arbitro e começou o segundo tempo e logo no começo todos os torcedores perceberam que havia algo de errado com o time, os jogadores pareciam estar desligados, meio desatentos, parecia um tipo de premonição de que algo de ruim estava por vir. Na segunda etapa a Holanda dominava o jogo e chegava até a área do Brasil com uma facilidade que parecia estar jogando vídeo game. Visto isso foi só uma questão de tempo para sair o gol da laranja. E passado mais algum tempo outro gol que jogarou um balde de água fria na esperança de cento e noventa e dois milhões de torcedores.
Para completar a tragédia Felipe Melo foi expulso de forma infantil por uma entrada criminosa no jogador Robben da Holanda. Nessa hora as últimas esperanças se foram e o time se descontrolou e passou a jogar desordenado sem nenhuma direção. Daqui do Brasil tivemos esperança até o último minuto, e quando apitou o arbitro pela última vez para nós nessa competição vi uma cena que poucas vezes presenciei na minha vida. Pessoas sentadas nos meio-fios das calçadas aos prantos, com uma desilusão profunda, uma dor ou amargura semelhante à perda de um ente querido, pessoas cabisbaixas, nervosas, chateadas e algumas sendo amparadas por outras, o país parecia estar de luto.
Agora estamos tentando juntar os cacos e entender o que deu errado, será que deveríamos ter levado este ou aquele jogador, devíamos ter aberto os treinos do time, a culpa foi do técnico que com seu jeito inflexível e teimoso devia ter ouvido o clamor popular, ou foi de determinado jogador que talvez não estivesse pronto para uma competição deste porte por puro despreparo ou descontrole emocional? Estas são perguntas que talvez nunca possamos responder, mas a certeza que fica é que está foi uma Copa do Mundo, memorável de todos os pontos e vista. E para nós brasileiros fica a certeza de que daqui quatro anos o arbitro apitará novamente e tudo recomeça para nós.