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quinta-feira, 6 de maio de 2010

Na alegria e na tristeza

Hoje uma bola me fez voltar a ser menino.
Esqueci as discussões da faculdade, as divergências entre políticos, as vítimas das enchentes de São Paulo e Niterói. Não me considere um alienado: elas também se esqueceram, por noventa longos e torturantes minutos, que em algum momento houve uma chuva lhes destruira as posses de toda a vida. Não os considere alienados: a catarse, a fantasia que inspira flagelados pobres e semi-letrados também embriaga abastados pós-doutores.

É que hoje o meu time jogou. O time dos flagelados e dos pós-doutores também. Para quarenta mil torcedores fanáticos ou para doze reclamões em um estádio, com cobertura de vinte câmeras da maior rede de televisão aberta do país ou pela narração de um radialista rouco da rádio da comunidade, o fato indiscutível é que o meu time, o time deles, o seu time entrou em campo.

Este fato elimina a lógica, a coerência, o bom senso. No estádio, nos bares, na sala de estar de cada casa brasileira, gargantas dão o máximo para mostrar que, do lado de cá do alambrado, não há tripa que não vire coração pra incentivar ou cobrar a equipe. E daí que eles não ouvem? É o nosso jeito de jogar por eles. É por aqueles onze carregando o brasão e o nome do clube , que sangue, suor, lágrimas, todo fluido corre no corpo do torcedor por noventa minutos.

Enquanto o relógio não fecha a volta, e o juiz não encerra o jogo, o corpo em transe não responde a nada que não venha de dentro do gramado.

Aficcionados aflitos,
esperançosos desesperados,
hipnotizados hiperativos.

Crianças. Crianças que sonham em entrar em campo e decidir o jogo, que não tem outra preocupação senão o resultado da partida. Crianças que cantam sorridentes pra incentivar seu time, que choram descrentes as dolorosas derrotas. Crianças por noventa minutos; crianças, desde pequenininhos.